José Joaquim Cesário Verde (1855-1886) foi um renomado poeta português que se destacou pela sua abordagem lírica inovadora.
Nascido em Lisboa, Cesário Verde teve uma vida breve, porém intensa, deixando uma marca significativa na poesia portuguesa do século XIX.
Destacou-se pela sua abordagem multifacetada, ao combinar elementos de várias tendências literárias, incluindo o Romantismo, Parnasianismo, Realismo/ Naturalismo, Impressionismo e até mesmo um toque surrealista na sua visão artística. Sua poesia abrange desde a poetização do real, com a sua mescla entre objetividade e subjetividade, até à crítica social, à oposição entre a cidade e o campo, à imagética feminina e à reflexão sobre a humilhação em várias esferas da vida.
No contexto do Romantismo, Cesário Verde manifestou um idealismo moderado em temas como a mulher e o amor, frequentemente acompanhados de uma ironia que questionava as convenções românticas. O seu poema “esplêndida” exemplifica essa dualidade ao retratar uma mulher idealizada sob uma ótica crítica. Já no Parnasianismo, reagiu contra o intimismo romântico, ao buscar uma objetividade temática e uma expressão literária precisa. Utilizava vocabulário concreto e técnico, preferindo a regularidade métrica, especialmente o verso decassilábico e o alexandrino, organizando os seus poemas em quadras que permitiam uma análise crítica e uma transição entre diferentes motivos. No Realismo/ Naturalismo, explorou o ambiente urbano de Lisboa, denunciando injustiças sociais, desigualdades e a opressão na cidade. Também valorizou o campo como um espaço de liberdade e plenitude, contrastando-o com a artificialidade e as limitações da vida citadina. A tendência Impressionista na sua poesia é evidente na valorização das impressões sensoriais imediatas, na descrição fragmentária e na ênfase em sensações como a cor, a luz e o movimento antes de referir-se ao objeto em si. Utilizava uma técnica descritiva rica em adjetivos expressivos, imagens originais e comparações vívidas. Por fim, o toque surrealista pode ser observado na sua capacidade de transfigurar a realidade, como na metáfora da cesta de legumes transformada em corpo humano no poema “n’um bairro moderno”.
Pode-se afirmar a sua proximidade com várias correntes estéticas, embora seja notável a semelhança com a temática do poeta francês Charles Baudelaire, ao retratar as realidades do dia a dia, o que o aproxima dos poetas portugueses do século XX, o que justifica a incompreensão por parte de seus pares em sua época.
Embora Cesário Verde não se inserisse em nenhuma das correntes poéticas dos países de língua portuguesa da altura, podemos dizer que ele não deixaria de estar ligado às estéticas do seu tempo de alguma forma. Se considerarmos o interesse na representação do real, por exemplo, ao observarmos o tipo de cenas retratadas pelo poeta, suas imagens e figuras urbanas, concretas, plásticas e coloridas, é fácil reconhecer aqui a afinidade com o Realismo. A conexão com os ideais do Naturalismo aparece na medida em que o ambiente influencia os comportamentos. Ao considerarmos que o poeta visualmente retrata uma cena, poderíamos até aproximá-lo do Parnasianismo. No entanto, a sua obra ainda revela um certo sentimentalismo que remete ao Romantismo e as imagens representadas, muitas vezes de personagens doentes ou pobres, jamais poderiam ser retratadas por um parnasiano.
Poder-se-ia afirmar que ele aproxima-se dos impressionistas, que captam a realidade, mas a representam já filtrada pelas perceções, o que definitivamente coloca-o entre os poetas fundadores da Modernidade.
Deste modo, ecos da sua obra podem ser percebidos nos poemas de Fernando Pessoa, com Cesário Verde parecendo ser o precursor do heterónimo Álvaro de Campos, sendo também mencionado por várias ocasiões nos poemas dos heterónimos Alberto Caeiro e de Bernardo Soares.
Em 1877, Cesário Verde começou a apresentar sintomas de tuberculose pulmonar, uma doença que já havia acometido sua irmã Maria Júlia Verde (1853-1872) e posteriormente seu irmão Joaquim Tomás Verde (1858-1882). Essas perdas inspiraram um dos seus principais poemas, “nós”, de 1884. Tentou-se curar da tuberculose, mas, sem sucesso, e veio a falecer a 19 de julho de 1886, em Lisboa, no Paço do Lumiar, aos 31 anos de idade, sendo sepultado no Cemitério dos Prazeres.
No ano seguinte, o escritor, dramaturgo e romancista de estética naturalista António José da Silva Pinto, e um dos seus amigos mais fiéis e íntimos, organizou “O LIVRO DE CESÁRIO VERDE”, uma compilação de suas poesias publicada pela primeira vez em 1887 pela Tipografia Elzeveriana, de Lisboa, e distribuída às pessoas que o editor e Jorge Verde consideraram mais dignas de receber a oferta. Estas incluíram “parentes, amigos e colaboradores próximos do renomado poeta”.

LIVRO DO AUTOR