Descrição
O soneto é uma forma poética fixa, isto é, com regras definidas e que devem necessariamente ser seguidas por seus praticantes. Surgido na Itália, o modelo mais consagrado possui catorze versos, distribuídos em duas estrofes de quatro versos (quartetos) seguidas de duas de três versos (tercetos). Era a forma praticada pelo italiano Francesco Petrarca (1304-1374), a grande inspiração de Camões, tanto pelo conteúdo lírico (elogio da amada e amor após a morte) quanto pela forma (duas quadras e dois tercetos). O “eu lírico” camoniano consegue ser, ao mesmo tempo, intimista suficiente para se referir a um conjunto de experiências amorosas particulares e para conferir a essas experiências um caráter de reflexão de valor mais amplo, ligado às características que definem a arte clássica renascentista: o equilíbrio, obediência às regras, o racionalismo e o universalismo.
A produção lírica de Luís Vaz de Camões é vasta e variada, porém pouco dela foi publicada durante a sua vida, além de “Os Lusíadas” e de poucos sonetos. A maior parte da sua obra lírica permaneceu inédita e a tarefa de identificar e reunir esse material mobilizou diversos estudiosos de várias épocas. Sucederam-se várias edições, expurgadas de poemas presumivelmente apócrifos ou acrescidas de dezenas de outros, mas a primeira obra completa apenas surgiria na metade do século XIX, preparada pelo Visconde de Juromenha, onde os sonetos, inicialmente do número de 108, chegaram a 353. A partir do final do século XIX, edições mais criteriosas, apoiadas nos trabalhos de importantes pesquisadores, tais como, Wilhelm Storck, Carolina Michaëlis, Agostinho de Campos, Costa Pimpão, Hernâni Cidade, Jorge de Sena, Eugênio de Andrade, Emanuel Pereira Filho, dentre outros, fixaram o número de sonetos, dentro do extraordinário legado camoniano, em 211 sonetos.
A presente edição é baseada naquela preparada pelo Visconde de Juromenha, com as adições principalmente do Professor Storck, e apresentam os sonetos comprovadamente camonianos e os sonetos atribuídos ao poeta, mas cuja autoria não é de toda confirmada, e consta com a magnífica versão para a língua inglesa de Sir Richard Francis Burton, em uma esplêndida edição bilíngue anotada.